No transcorrer da semana de 16 a 22/04, a repercussão sobre o “jogo da baleia-azul” foi grande no Brasil. E não era para menos. Inclusive aqui na região, com alguns casos vindos a público.
A mente psicopata que urdiu esse jeito de produzir o mal em larga escala, apossa-se do efeito multiplicador que a internet propicia, e, valendo-se das redes sociais, consegue acessar as suas vítimas (crianças e adolescentes), trazendo, assim, um estado de inquietação colossal.
A preferência é por quem aparente algum grau de depressão, algum nível de insatisfação com a vida, alguma tristeza crônica, com o propósito de motivar as vítimas à automutilação, e ao autoextermínio.
O desafio “Blue Whale”, ou “Baleia Azul”, saiu de um esquema de marketing, concebido para alavancar uma página em rede social russa e ganhou o mundo, de forma trágica, ao que parece, deturpando a ideia inicial dos seus criadores. As notícias ainda são desencontradas, é verdade, mas o perigo é real.
A referência ao gigante dos mares, não é por acaso. O comportamento adotado pelas baleias doentes, de buscarem águas rasas e tranquilas, é uma verdadeira armadilha para eles mesmas, na medida em que o mamífero marinho, enfermo, é seguido por outros que, por serem animais sociais, o acompanham, encalham e morrem, aparentando um suicídio coletivo. De certa forma, os adeptos do “baleia-azul”, caminham nesse roteiro.
Em meados de fevereiro de 2017, diversos sites ingleses começaram a divulgar um misterioso “jogo do suicídio”, que teria levado mais de 130 jovens a se matarem na Rússia, a partir de 2015, quando uma jovem de 17 anos tirou a própria vida, na região de Primorsky Krai, no extremo oriente russo.
O jogo macabro é praticado em comunidades fechadas, em redes sociais como o Facebook, e o WhatsApp. O objetivo dos autodenominados “curadores” do “baleia-azul”, é instigar os jogadores a cumprirem 50 desafios, sendo o último deles, o ato de se matar. Quem já participou e conseguiu escapar, declara que a pressão é muito grande, inclusive com ameaças contra os familiares.
O problema é de difícil solução, em razão do alcance internacional da internet, da dificuldade de se manter um controle no sentido preventivo, e até mesmo repressivo.
O estado de perplexidade da população é evidente, a angústia de não saber de onde vem o perigo, a conscientização da ameaça que ronda a vida de pessoas ainda inexperientes e propensas a aventuras, torna o momento, no mínimo, preocupante, tenso.
Ainda sem saber como proceder, muita gente reage de forma equivocada, inclinando-se a minimizar ou ridicularizar a situação, imaginando tratar-se de mais um boato virtual, querendo levar a coisa na esportiva, na gozação, inclusive dizendo que “depressão é frescura” (o que poderá resultar em gravíssimas consequências).
Outra situação que deve ser seriamente avaliada é a impulsividade de pessoas de boa vontade que tentam ajudar, mas não possuem a habilidade, nem o conhecimento necessários para prestar um bom apoio emocional ao jovem vitimado. A situação poderá estar num ponto tão delicado que, uma palavra inadequada, uma sugestão imprópria, piore o quadro. Mais uma vez, o amor, a compreensão, o acompanhamento sem pressão, e sem fazer o jovem se perceber abafado, vigiado constantemente, é o mais apropriado.
A partir daqui, é preciso considerar que o jogo baleia-azul, em si, não representa uma ameaça para as crianças ou adolescentes que estejam bem consigo mesmos, que sintam-se em harmonia com os grupos que frequentam, no lar ou na escola, e que não estejam sendo vítimas de bullying (ou assédio moral), o que, neste caso, se traduz por rejeição social.
Muito mais que os adultos, pessoas na fase infantil ou juvenil, têm grande necessidade de se sentirem aceitas e incluídas nos grupos que frequentam, e de, também, se perceberem amadas e compreendidas pelos familiares. E isto só se consegue através de um processo de conquistas. Quando a família não consegue, alguém, de má índole, pode conseguir.
O amor pela vida, a valorização pelo ato de viver, e por bem conviver, precisam ser reiterados quase que diariamente.
Por outro lado, se causa repugnância o fato de alguém maquinar formas e fórmulas para motivar pessoas a atentarem contra a própria vida, além de se torturarem antes, também existe uma linha de irresponsáveis e inconsequentes que divulgam uma lista com 50 outros desafios no “jogo da preguiça azul” (uma espécie de paródia do “baleia-azul), tentando ser engraçado com algo que não tem a menor graça, e que só demonstra desrespeito pelos adolescentes, e faz pouco-caso do sofrimento deles.
A depressão é um transtorno mental catalogado pela Organização Mundial da Saúde, e como tal, necessita de cuidados especializados, na mesma medida que um câncer, ou hepatite, por exemplo, exigindo a urgente consulta médica. Com a depressão, infantil, juvenil, ou adulta, é a mesma coisa. Quem negligencia os cuidados especializados com a saúde (física ou mental), pode arrepender-se e sofrer muito.
Aproximar-se mais desses jovens, e tentar, estabelecer um convívio de mútua confiança, e respeito, é de extrema importância. Entender os conflitos, os sentimentos desalinhados, confusos, e não imaginá-los irrelevantes, já é uma boa iniciativa para quem pretende, de fato, ajudar.
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