Numa conversa boa, produtiva, “os olhos escutam mais e melhor que os ouvidos”. Quer dizer: é pelos olhos que captamos maior quantidade de informações durante um bate-papo.
Quem observa os gestos, a posição do corpo do interlocutor, suas expressões faciais, seus olhares, mais que simplesmente “ouvir”, “escuta” com mais clareza a outra pessoa. De fato: o corpo fala e é eloquente, até por ocasião dos eventuais silêncios durante uma troca de ideias.
O movimento das mãos, o jeito de cruzar as pernas, a forma como o tronco está inclinado para a frente ou largado para trás, são esclarecedores durante uma entrevista, por exemplo. Com eles é possível perceber se a conversa não está agradando, se há ou não interesse pelo tema, se o interlocutor está ou não omitindo algum detalhe em sua narrativa, ou mesmo mentindo.
Os gestos que fazemos sem perceber podem revelar desejos, emoções, medos, dúvidas e até os pensamentos mais secretos – mesmo que a fala diga exatamente o contrário.
A comunicação não-verbal, ou seja, a linguagem do corpo, é elucidativa, pois que é mais difícil de ser dissimulada.
Os bons atores, aqueles que especializaram-se na arte de representar papéis, só convencem porque utilizam muito bem a comunicação não-verbal.
No início da década de 70, o antropólogo americano Ray Birdwhistell, da Universidade de Louisville, monitorou, de cronômetro na mão, centenas de situações em que alguns indivíduos se comunicavam entre si. O pesquisador chegou à conclusão de que apenas um terço das mensagens era transmitido pelas palavras e pelo tom de voz. Os outros dois terços se expressavam por meios não-verbais, ou seja, pelos movimentos do corpo.
Contudo, evidencia-se que nem todos os gestos são espontâneos, ou seja, fabricar um sorriso simpático não é difícil. Quem ainda não percebeu o chamado “sorriso de laboratório” estampado num rosto, em alguma propaganda, num desfile no Sambódromo, ou num show musical, por exemplo?
Afinal, como diz o antropólogo inglês Desmond Morris, em seu famoso livro “Você – Um Estudo Objetivo do Comportamento Humano”, “nós mentimos melhor com o rosto”.
Entretanto, também é preciso considerar que os pés e as pernas se movem de um modo menos consciente e, por esta razão, passam dicas mais confiáveis para quem sabe interpretar esses gestos corretamente. Não é por acaso que muita gente trata de grandes negócios sob a proteção de uma boa escrivaninha, que, entre suas naturais utilidades, também serve para camuflar a parte inferior do corpo. Não é por outra razão que, nas entrevistas de emprego é comum se instalar a cadeira do candidato no centro da sala, de tal modo que o corpo da “vítima” fique totalmente exposto. Pernas tensas ou relaxadas demais, trêmulas, ou pés inquietos, podem apontar para sentimentos inconfessos.
Qualquer que seja a situação, o que realmente importa são os gestos involuntários, que expressam com muito mais fidelidade os sentimentos de cada um. O corpo é um dos principais canais para a expressão do inconsciente, de modo que, quando a cabeça diz “sim”, o corpo pode estar dizendo “não”, sendo prudente acreditar-se que a verdade está nos gestos e não nas palavras, porque o gesto revela o que o cérebro pensa e não diz.
A vida relacional familiar, por exemplo, pode conter imensos hiatos entre as comunicações dos respectivos membros, espaços do mais completo desentendimento ou aleamento, que projeta uma indiferença potencializadora de solidões. A pressa, a “paisagem viciada” que repete-se diariamente, estabelecida no ambiente do lar, induzem a negligência na percepção dos gestos (muito mais do que das próprias palavras), das expressões faciais, das emoções e dos sentimentos daqueles com quem se convive, tornando-se, todos, grandes e cruéis desconhecidos.
Assim, se não há espaço para um diálogo, pelo menos que procuremos nos olharmos (de preferência sem desviar os olhares); que, muito mais do que determos grandes e diversificados saberes idiomáticos, busquemos, também, informações adequadas para, até mesmo de forma elementar, simples, conseguirmos traduzir a linguagem corporal.
Jonas Paulo jonaspaulo44@gmail.com