Quando se fala em racionalizar sentimentos, logo aparece quem diga que isso seria uma aberração, que quem racionaliza está fingindo sentir, não está se jogando de cabeça no relacionamento. Mas sentimento não é só “coisa boa”. Aliás, ele pode começar como uma possibilidade de algo encantador, e terminar como um verdadeiro tsunami na biografia de alguém. Não se trata de caminhar na vida com inspirações sociopatas, de quem é frio e calculista, e que aparenta uma coisa quando na realidade se é outra muito diferente e até perigosa. Não é isso. É por racionalizar sentimentos (com vistas a um relacionamento afetivo), que as pessoas se aproximam pela simpatia, pela afinidade, pelo conquistarem-se, pelo cativar, pela troca de gentilezas, pelas atenções, enfim, pelo enamorar-se, de forma espontânea ou premeditada, passo a passo. Pode sim, ocorrer que esse pacote seja desembrulhado a partir do primeiro olhar, e daí em diante tudo seja só flores, e zero espinhos, e zero rusgas, aborrecimentos nenhum.Entretanto, é bom lembrar que sentimentos geram derivações deles. E é neste ponto que surgem os poréns a serem dignos de racionalização. Se, por um momento qualquer, perdemos o controle, e, no caso do sentimento “amor”, resvalarmos para o ciúme, se não houver uma percepção que dose esse sentir, é possível que a vida relacional se torne um tormento, em que o pretenso “amor” se desvie para o ressentimento e até alcance o ódio. Sentimentos, todos, podem gerar consequências boas, ou más, a depender daquilo que se deixe transformar o sentir original. Afinal, é comum nos depararmos com sentimentos derivados de outros sentimentos, que, por vezes, estavam fora de cogitação. Saindo do foco dos sentimentos bons, aí é que a “coisa” requer mais racionalização ainda, pois, num piscar de olhos, as consequências podem ir de zero ao infinito, e não dá para prever desfecho. A raiva, para começo de conversa, já se encarrega, por si mesma, de lançar no organismo do raivoso, cargas brutais de hormônios que, de tão exageradas, transformam-se em veneno. Afora isto, as suas perigosas derivações, que vão da leve irritação até a fúria descontrolada, a depender a velocidade e da intensidade, pode estragar com a vida numa fração de segundo. As derivações de cada sentimento poderá alterar o destino, o viver de cada pessoa. E isso pode ser rápido, na velocidade do pensamento. Não é à toa que uma grande emissora de rádio e televisão tem alterado o seu slogan (que no início era “em 20 minutos tudo pode mudar”, para “em 2 minutos tudo pode mudar”, e recentemente já foi ouvido: “em 2 segundos tudo pode mudar”). Assim, à medida que subimos, ou descemos nos degraus da escala dos sentimentos experimentados, poderemos enveredar por patamares que tragam alívio e satisfação, ou desassossego, e desespero mesmo. Quer queiramos ou não, nossos sentimentos estão sendo alterados também, ao sabor da velocidade da internet, direta ou indiretamente. A partir daí, desastres podem ocorrer de repente, quer seja no campo das subjetividades, quer seja nos ambientes físicos, e o panorama sentimental pode ser drasticamente alterado.A culpa, por exemplo, pode agregar múltiplas derivações e subderivações. A raiva segue o mesmo padrão. Um só momento de invigilância, um descontrole à toa, o caldo pode entornar e, reencontrar o rumo ideal pode ser penoso. Há sentimentos de culpa que podem ir de um simples descuido, que possibilita alguém pisar no pé da outra pessoa, a algo muito mais grave, como uma decisão que traga prejuízos de qualquer ordem a outrem, a um grupo de pessoas, a um país, e até a toda a humanidade. Por isso, é sempre interessante estarmos atentos para a questão da velocidade da mudança dos nossos humores e das consequências de nossas atitudes, que repercutem no padrão de volatilidade dos sentimentos tidos com nobres, como o amor, que exige um eterno cativar, a fim de que ele não vire fumaça.
Jonas Paulo
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