O A2 Portal coleciona uma série destas histórias aqui da região de Porto União da Vitória, já publicada no tempo do impresso na seção Histórias como aperitivo”. Agora, vamos recuperá-las para a era digital.
A Assombração na Ponte Férrea Machado da Costa
Após o ano de 1924, com a morte de Coronel Amazonas, o que antes era conhecido como Fazenda Passo Iguaçu, começou a progredir e passou a chamar-se “bairro Lagoão”, hoje distrito de São Cristóvão. E lá, não demorou para o “Bailão do Lagoão” se transformar na principal atração de lazer da região. Era “a balada”.
Mané Martelo um carpinteiro de mão cheia, morava onde morava com a mãe em uma casinha modesta no outro lado da cidade, no bairro de “Tocos” (São Pedro – Porto União) e todos sábados, ali pelas 16h, deixava seu ofício de lado, ia para sua casa, fazia barba, tomava um banho demorado, se perfumava, vestia seu terno branco que comprara depois de meses de economia, calçava seu sapato bico fino e lá pelas 20h saía para chegar lá pelas 21h30 no centro da cidade.
Vários amigos o esperavam para passar a ponte, pois naquele tempo (…) muito se falava de assombrações e fantasmas na ponte de ferro Machado da Costa. Mané dava risada e dizia: “Vocês são uns frouxos! Assombrações, bah! Não há nada na ponte”.
E assim era. Os amigos se reuniam em frente ao Hotel Paraná (acima), anos depois destruído por um incêndio e “varavam” a ponte juntos para ir ao baile no bairro Lagoão. E o Mané repetindo: “Vocês são uns frouxos”.
De tanto ouvirem o Mané xingá-los e caçoar, certo sábado os amigos resolveram não esperar e foram sem o Mané para o Bailão do Lagoão.
Na hora de costume, Mané chegou ao local de encontro e nenhum de seus amigos estava lá. Achando que eles haviam se atrasado, Mané acendeu um cigarro e ficou à espera dos amigos. Como já passava das 21h30, Mané decidiu ir sozinho ao baile.
Chegando na cabeceira da ponte, ele sentiu certa relutância e pensou nas histórias de assombrações que os amigos tanto falavam, mas ajeitou sua gravata e com o caminho iluminado pela lua e resolveu seguir em frente.
Ao colocar o pé no primeiro dormente, nuvens escuras ofuscaram a luz da lua, tingindo a noite de breu. Nesse instante, Mané ouviu um leve choro em suas costas. Voltou alguns passos e viu ao lado da linha do trem um cesto com um neném recém-nascido dentro, abandonado. Olhou para o relógio e viu que há eram 22h e que se não fosse rápido, perderia o início do baile e a dança que uma pretensa namorada havia lhe prometido.
Um tanto acabrunhado, ele pegou a criança no colo e atravessou a ponte para dançar o baile com sua querida.
Seus amigos quase morreram de rir quando Mané chegou no salão com aquela criança nos braços. Durante o baile, o neném ficou aos cuidados de Dona Tereza, proprietária do salão. Ao findar o baile, Mané pegou a criança, levou a moça para casa, pois tinha permissão do pai da para namorá-la e se tocou a pé até a Ponte de Ferro, para cruzar para o lado de cá.
Então, um denso nevoeiro envolvia toda a nossa região e Mané cauteloso, colocou o neném em um de seus ombros, ficando com a outra mão livre, para o caso de uma eventual queda. Novamente a lua foi encoberta por nuvens.
“Mas que diabo, logo agora o clarão da lua foge”, pensou Mané. A cada passo que ele dava, parecia que o neném ficava mais pesado: “Pesa como um leitão”, pensou o carpinteiro que chegou aos últimos dormentes da ponte já com “os bofes de fora”. Mal ele saiu dos trilhos, passou um trem que não fazia barulho e nem expelia fumaça pela chaminé da locomotiva e brilhava inteiro!
Num relance, Mané viu que o maquinista era um esqueleto de olhos flamejados, que ria alucinadamente. Seus cabelos ficaram arrepiados de tanto medo. Cruz credo!
Não aguentando mais o peso do seu “fardo”, talvez por medo, despencou no chão. Foi aí que ele sentiu um forte cheiro de enxofre e exclamou palavras impregnadas de irritação, pensando que o neném tivesse estragado seu terno.
Ao se levantar do tombo uma violenta vertigem o atingiu e Mané ao ouvir um riso tétrico. E ficou pasmo: a criança havia adquirido um tamanho descomunal, seu rosto era a cara de um cachorro e “estava rindo”.
Os pezinhos haviam se transformado em casquinhos, “que nem de cabrito”. Virgem Maria! Saiu em desabalada carreira pelos trilhos do trem, desvairado, à beira da loucura, tal o pânico que se apossou do pobre Mané!
Contavam os moradores mais antigos que seus belos sapatos de bico fino ficaram extraviados pelo trajeto da ponte férrea até os “Tocos”. Também vários pedaços de seu amado terno branco ficaram neste trecho, devido às quedas que ele sofreu nos trilhos do trem.
Contam também que ele bateu o recorde, pois para ir de carro do centro da cidade até “Tocos”, levava-se aproximadamente 1h. O Mané fez em 15 MINUTOS, até sua casa, lá pra trás da igrejinha.
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