A Fundação Americana para a Prevenção do Suicídio, em 2016, alertou: a média anual de médicos que se matam é de 300 a 400 profissionais. Esse desastre, projeta um índice da ordem de mais de um óbito diário.
Neste caso, pessoas treinadas para zelar e serem referência de zelo pela vida e pelo viver, não conseguem segurar a onda, e apelam para o ato de sair de cena pela porta estreita do autoextermínio. Quanta dor, quanto desespero deve estar contido no íntimo desses profissionais! Quão paradoxal deve ser o nível de sentimentos ambivalentes que pressionam e castigam essas personalidades! Logo eles, que, sabe-se lá como, esforçaram-se por adquirirem conhecimentos científicos com o objetivo de salvarem vidas, e não conseguem salvar a si próprios!
Estudos internacionais sinalizam que a frequência de atos suicidas no âmbito da categoria dos médicos, é 2,45 vezes maior que no restante da população.
A síndrome do esgotamento profissional, ou síndrome de burnout, é um distúrbio psíquico descrito em 1974 por Freudenberger, um médico americano. Profissionais de saúde, educação, recursos humanos, agentes penitenciários, bombeiros, policiais civis e militares, membros das Forças Armadas, e mulheres que enfrentam dupla ou tripla jornada de trabalho, têm grande probabilidade de desenvolver o transtorno.
Há quem imagine que profissionais bem-sucedidos estejam, de certa forma, livres dos efeitos nefastos das pressões e das tensões que contribuem drasticamente para estados de depressão. A exposição diária a situações estressantes no ambiente funcional da saúde, a vivência direta com o fenômeno morte, e as precárias condições de trabalho, funcionam como traiçoeiros gatilhos de armadilhas emocionais nem sempre fáceis de serem neutralizadas.
A vida competitiva, atribulada, pode propiciar, também, o encontro de dissimulados “cordões de tropeço”, ao momento em que apresentam-se os naturais anseios por galgar projeção profissional e auferir boas e justas recompensas financeiras. Somados a isto, vêm as circunstâncias e os contextos nem sempre favoráveis, as frustrações de diversas espécies, tudo a encorpar um caldo danoso de conflitos geradores de sentimentos difíceis de serem bem administrados, oportunizando, então, importantes sequelas psíquicas.
Conheço cinco ou seis médicos que descambaram pela desastrosa via do alcoolismo e/ou, da drogadição. Pessoas que, segundo dizem, apelam para esse artifício com a intenção de “suportarem as noitadas em ambientes de extrema pressão e tensão”, que são as emergências em hospitais e prontos-socorros. E, não se imagine que, nesse ponto, a situação é amena nas cidades pequenas, pois, tanto aqui, quanto nas grandes metrópoles, a proporção de recursos humanos, de material, e a demanda de pacientes, é quem dita o caos nos hospitais.
O famigerado Sistema Único de Saúde – SUS, com o perdão do trocadilho infame, nos prega grandes SUStos, e isto, se bate forte no emocional e na vida dos pacientes, também repercute gravemente na intimidade daqueles que são muito cobrados, e que, para melhorarem a renda pessoal, submetem-se a cargas horárias que, em verdade, são desumanas.
A Vice-Presidente do Sindicato dos Médicos do Estado, e Membro do Conselho Regional de Medicina, de Pernambuco, Dra. Claudia Beatriz Câmara de Andrade, assinalou recentemente: “Temos uma vida de elevado nível de estresse. As condições de trabalho são bem complicadas. Por vezes poderíamos até dizer que são indignas. O médico lida não só com o estresse técnico, mas também com algumas escolhas que precisa tomar numa emergência. São, sem dúvida, fatores desencadeantes para chegar à depressão e ao suicídio”.
A Fundação Americana para a Prevenção do Suicídio, recomenda a importância de se conferirem eventuais indícios sinalizadores da tendência suicida de algumas pessoas, tais como:
• Falar ou discutir sobre o desejo de morrer;
• Pesquisar maneiras de se matar;
• Referir-se à desesperança ou ao sentimento de que a vida não tem nenhum propósito;
• Exibir sentimentos de estar preso ou de dor insuportável;
• Demonstrar sentimentos de ser um fardo para os outros;
• Aumento do uso de bebidas alcoólicas ou de drogas;
• Alterações do sono (em excesso, ou insônia);
• Isolamento e retirada social;
• Manifestação de raiva ou desejo de vingança;
• Comportamento ansioso, agitado, ou de contumazes ações que denotem imprudência; e
• Oscilações extremas de humor.
A dica, para quem pretende ajudar aqueles que apresentam algum desses sinais, é se evitar de deixá-los sozinhos, removerem-se todos e quaisquer objetos tidos como perigosos, e/ou impedir-se o acesso às drogas que poderiam serem usadas em uma tentativa de autoextermínio, e procurar ajuda médica imediata.
Aqui, na região, nas cidades de Porto União, União da Vitória, e municípios vizinhos, o Projeto União Pró-Vida, com os seus voluntários, corre contra o tempo e trabalha para voltar às atividades nos próximos dias, quando será reaberto o Posto de Atendimentos, com a nova turma de Facilitadores, apta a acolher qualquer pessoa que deseje conversar sobre qualquer assunto sério e que esteja causando desconforto emocional, sempre com muito respeito, sem nenhum tipo de desaprovação, aconselhamento filosófico, religioso, ou de conotação política ou ideológica, com confidencialidade garantida.
Jonas Paulo jonaspaulo44@gmail.com
Ulaanbaatar. Você conhece Ulaanbaatar? Ulaanbaatar é a capital da Mongólia, e é passagem obrigatória para quem gosta de turismo exótico e pretende sentir uma temperatura que pode chegar aos incríveis-40º C, no inverno, e alcançar 40º C no verão, com mudanças rápidas de temperatura, algo como (guardada as devidas proporções), entrar no freezer, sair, e entrar a seguir no forno. Lá o ambiente é inóspito, mas existe quem goste de visitar aquelas terras áridas. Também lá, em Ulaanbaatar, é possível visitarem-se museus, palácios imperiais, monastérios budistas, e um enorme mercado a céu aberto, o Narantuul.
Ulaanbaatar está entre muitos outros destinos exóticos pelo mundo afora.
O conceito de “sentir de perto para ver como é que fica” é que atiça o promissor turismo exótico.
Percebendo essa tendência, as agências de viagens continuam elaborando roteiros os mais curiosos.
Há pacotes que atendem a todos gostos, e para aqueles pretendem ver povos e paisagens quase que intocados, aqui no Brasil mesmo. Desde uma viagem pelas caatingas áridas e espinhosas do sertão nordestino, ou passando pela incursão em uma tradicional favela carioca, tudo ou quase tudo pode acontecer. Lugares de tirar o fôlego, como o Vale da Lua, na Chapada dos Veadeiros; o vilarejo de Alter do Chão, às margens do rio Tapajós, em Santarém, no estado do Pará; Aroe Jari, na chapada dos Guimarães, no Mato Grosso; ou a Aldeia Hippie de Arembepe, na Bahia, são nomes que podem parecer estranhos, mas guardam paisagens, tradições, culinária, e um ambiente de sofisticada beleza, e muita paz.
Na mesma linha, para quem não se conforma em ver de longe, e quer adquirir uma visão de mundo ampliada, a superpopulosa Índia, de cores e cheiros fortes – por exemplo –, pode oferecer um clima muito úmido e quente, quase insuportável, com a oportunidade de enfrentar cardápios estranhíssimos, e o direito de escolher como comunicar-se num caos linguístico de 325 dialetos e idiomas, e, em certas ocasiões, olhando nos olhos da miséria mais degradante.
Para se conhecer verdadeiramente um povo, com as suas peculiaridades, é preciso ir lá e participar, sentindo tudo na pele por algum tempo.
Para se conhecer alguém, com a intenção de compreender e aceitar o outro ser humano, como manda o figurino, também é preciso viajar ao seu mundo interior. E esse turismo não é fácil de ser feito porque é da regra que nossa bagagem pessoal fique do lado de fora, aguardando a nossa volta, quer dizer, no mundo do outro a fiscalização é rigorosa, e não gosta de intromissão indevida.
Quanto mais valores pessoais esse “turista” levar, tanto menos se poderá perceber as belezas ou mazelas que a outra pessoa guarda em si.
Entender o íntimo de uma pessoa é mais ou menos assim. É fazer uma viagem diferente, onde o que importa é perceber, com isenção, como aquela outra individualidade é por dentro, o que pensa, como age e reage, sem que se pretenda instituir um regime ditatorial no “país psíquico” dela.
O desafio de entrar como turista no universo interior de alguém exige habilidade, responsabilidade e sinceridade de propósito. Para isto acontecer é necessário que se abram mãos da tentação de querer carregar para dentro daquela personalidade os próprios souvenires, as bugigangas e quinquilharias morais que caracterizam o visitante.
A intimidade humana é “terra” desconhecida, e quase sempre inexplorada, virgem, porque raras são as pessoas capacitadas a penetrá-la.
Somos apenas semelhantes, mas essencialmente diferentes, misteriosos, e por esta razão, é muito difícil de se conseguir formar juízos de valores sinceros e verdadeiros sobre alguém. Razão pela qual, muitas vezes, no desejo de ajudar, nossos pitacos em relação à vida dos outros é uma tremenda bola fora.
Aceitar as diferenças é preciso. Respeitar as outras individualidades é necessário. Concordar ou discordar, é outra coisa muito diversa disto, e também, não significa dizer que devamos nos desfazer de nossos valores éticos e morais para ajudar quem precisa de uma conversa franca, respeitosa, e cheia de compreensão.
Contudo, para saber o tamanho da dor moral da outra pessoa, o valor real de seus sentimentos, só mesmo “adquirindo o passaporte moral da empatia”, que libera o “turista” para sentir aquilo que o outro está sentindo.
Haja coragem, vontade sincera, e jogo de cintura para ir e voltar da “aventura” sem depredar o “meio ambiente”, sem agredir e sem deixar rastros.
Jonas Paulo jonaspaulo44@gmail.com
Ainda que os dicionaristas fiquem o pé, e coloquem alegria e felicidade quase num mesmo pacote, com significados muito semelhantes, neste caso eu exerço o meu direito de divergir.
Para mim, a alegria pode ser encontrada num momento lúdico, de qualquer atividade que distraia ou divirta, mas esta ainda não é a felicidade que eu imagino. Ela, ainda como a vejo, é mais profunda, mais (digamos), elaborada, ainda que também seja subjetiva, e tenha um caráter de prazer moral. Eu posso vivenciar a felicidade sem necessariamente sorrir, nem expressar alegria. Num momento de lazer é possível se estar muito alegre, mas a felicidade pode ainda não ser vivenciada.
No último dia 20 deste mês de março o mundo comemorou o dia internacional da felicidade, criado pela ONU a partir de 2012. Para organizar o ranking dos países mais felizes do mundo, a Organização analisou vários índices ligados à economia, meio ambiente, urbanismo, saúde e políticas públicas voltadas à população.
O nosso Brasil, que é feito de um povo alegre, neste ano de 2017, ficou ainda mais triste, segundo as Nações Unidas, e caiu cinco posições, chegando agora ao 22º lugar, entre 155 países.
Aqui, em nossa região, com o clima frio que caracteriza os três estados do sul do País, sempre aparece alguém que questiona ou defende que a falta de dias ensolarados propicia a tristeza, a depressão e potencializa o índice de suicídios. Contrapondo-se a isto, conferindo o ranking dos países mais felizes do mundo, verifica-se que os cinco primeiros (Noruega, Dinamarca, Islândia, Suíça,e Finlândia), são países em que as baixas temperaturas fazem parte do padrão climático daqueles lugares.
O último relatório da Organização das Nações Unidas não deixa por menos, e afirma: “Os países mais felizes são aqueles em que há um equilíbrio saudável na prosperidade e um alto capital social, o que leva a uma confiança na sociedade, baixos níveis de desigualdade e confiança no governo”. Isto sim, concluo, é que faz as pessoas se sentirem valorizadas e respeitadas.
De tudo isso, encarando-se de frente as circunstâncias e o contexto histórico que, como brasileiros, arrastamos desde que nos entendemos como Nação livre, soberana e independente, verificamos que, se há muito pouca coisa para, neste momento, o povo se alegrar, quase nada existe para se considerar em estado de felicidade, e, de desgosto em desgosto, a população, a sociedade com um todo, é atingida nos seus brios, nos sentimentos da própria dignidade, da honradez, da altivez, e do amor-próprio.
Quando se imagina que o fundo do poço foi alcançado, surge um nível mais baixo ainda, como é o caso da carne podre e da linguiça temperada com papelão (rejeitadas até pela China, que há duas décadas está cristalizada no 83º lugar do referido listão). Se não bastassem a corrupção endêmica, a roubalheira, o desvio, a maracutaia, a falta de recursos para hospitais e educação, as emergências fechadas, as escolas depredadas, o tráfico comandando bairros inteiros, o desemprego, o aumento desenfreado de preços, as estradas esburacadas, a insegurança pública, o desemprego, agora se percebe que, quase que semanalmente, sempre há a possibilidade da trágica lei de Murphy prevalecer: “Nada está tão ruim que não possa piorar”.
Assim, já dá para afirmar que a causa primordial da tristeza pública que hoje afeta o povo brasileiro, e que abre espaço para ocorrências de depressão e os elevados e lamentáveis índices de suicídios, não ocorrem em razão de mera variação climática (como muitos pensam por aqui), mas, sim, pelo excessivo rol de malfeitos e de malfeitores que assaltam a consciência de todos nós, e também pelo elevado índice de desvalorização que a vida humana passou a atingir, por valores equivocados e assimilados, nessa balbúrdia de sentimentos nada favoráveis à paz interior.
Jonas Paulo
jonaspaulo44@gmail.com
A posvenção não é um termo encontrado nos principais dicionários da Língua Portuguesa. Entretanto, a palavra serve para conceituar iniciativas posteriores a um mal já consumado, e que visam prestar apoio às pessoas alcançadas pelo mesmo infortúnio.
O doutor Edwin S. Shneidman (1918 – 2009), descreveu o conceito de posvenção em 1972 como a “prevenção do suicídio em relação às futuras gerações”.
Em uma de suas 18 obras, Shneidman esclarece que, “qualquer ato apropriado e de ajuda que aconteça após o suicídio com o objetivo de auxiliar os sobreviventes a viver mais, com mais produtividade, e menos estresse”, é uma atitude de posvenção.
A história do movimento de apoio aos sobreviventes da morte espontânea, começou em 1970, na América do Norte, com a fundação do primeiro grupo de apoio ao luto por suicídio.
A Organização Mundial da Saúde – OMS, em 2008 organizou, junto à International Association for Suicide Prevention, o livro “Prevenindo o Suicídio: Como Começar um Grupo de Sobreviventes”.
Por alguma das imponderáveis induções do destino, há algumas décadas passadas, em ocasiões diferentes, presenciei os atos suicidas de três pessoas que não faziam parte de minhas relações de amizade. Foram episódios distintos, ocorridos nas ruas do Rio de Janeiro e que, até hoje, quando lembro, mexem comigo: pior que um grande susto. E, fico a imaginar que, se passado todo esse tempo, ainda me abala lembrar daquelas cenas em que vi seres humanos, sem vínculo de parentesco ou amizade comigo, dando cabo da própria vida, o que não pensar do que parentes e amigos sentem após vivenciarem as consequências drásticas, devastadoras, que um ato dessa natureza produz.
É evidente que, se organismos humanitários, religiosos e/ou científicos se esforçam para prestar apoio emocional como prevenção ao suicídio, também há que se pensar com grande empenho em ações de posvenção, promovendo-se atividades, intervenções, prestando suporte e assistência àqueles que estejam na condição de impactados por um suicídio, consumado ou não.
Os chamados “sobreviventes do suicídio”, isto é, tanto aqueles não obtiveram êxito na tentativa de autoextermínio, quanto aqueles que perderam parentes ou amigos para o suicídio, requerem um olhar atento, cuidadoso, apoio incondicional, respeitoso, e, sobretudo, a oportunidade de serem bem-ouvidos, de compartilharem as suas tristezas, de relatarem seus sentimentos que, muitas vezes, não param de lhes proporcionar dores morais irreparáveis.
A posvenção do suicídio visa trazer alívio dos efeitos relacionados com o sofrimento e a perda do ente querido; prevenir o aparecimento de reações adversas e complicações do luto inesperado; minimizar o risco de comportamento suicida em pessoas enlutadas em razão da autodestruição de parente ou amigo; e promover a resistência e o enfrentamento das consequências morais, emocionais e sentimentais resultantes das tentativas ou dos atos consumados de suicídio.
O ato suicida não cessa após a morte de alguém, mas prolonga-se e arrastasse por toda a existência de quem sobrevive a ele.
A Organização Mundial de Saúde estima que de 6 a 10 pessoas são severamente afetadas em consequência de um ato suicida de alguém com quem se tenha algum tipo de relacionamento, mas, existem autores sérios, respeitáveis, que defendem que de 28 a 50 pessoas podem sofrer graves sequelas posteriormente a um ato de morte voluntária de parentes ou amigos.
O tamanho dessa devastadora consequência, fazendo-se uma conta com base nos dados publicados em 2010, em que registraram-se 9448 mortes por suicídio diretos no Brasil (aqueles em que se percebe a real intenção da vítima de se matar), chega-se a um universo de 56688 a 472400 pessoas atingidas moral, emocional e/ou sentimentalmente, a depender do índice considerado, se da OMS, ou dos estudiosos do tema.
Se o suicídio é considerado um gesto extremo de comunicação, nem sempre compreendida por aqueles que recebem a notícia surpreendente e estarrecedora, também é um recado trágico, que pode ter um conteúdo de agressividade e ódio contra alguém, ou contra toda a sociedade, voltado contra quem pratica o ato.
A maioria dos sobreviventes não conta com nenhuma ajuda para lidar com o luto. Na esteira dessa dor tenebrosa, ocorrem significativas intensidades na duração do luto, do aumento de sintomas depressivos e no impacto causado no sistema familiar, com possibilidades da geração de um desastroso círculo vicioso.
Culpa, vergonha, busca incessante do motivo, sentimentos intensos de responsabilidade, rejeição e abandono, maior dificuldade em dar sentido para a vida e para a morte, autoacusações, isolamento, mudanças na dinâmica familiar são alguns dos sentimentos e comportamentos usualmente experienciados pelos sobreviventes.
Muitas vezes, amigos e familiares que, usualmente, dariam apoio e ajuda ao luto por outras causas, afastam-se e não sabem o que fazer, contribuindo ainda mais para a sensação de isolamento e abandono vivenciados pelos sobreviventes.
Sem ajuda apropriada, essas pessoas, especialmente crianças, podem experienciar um luto traumático e complicado. Da parte dos organismos de apoio científico, a posvenção oferece serviços de acesso aos cuidados especializados para o manejo do processo de luto, minimizando, dentre outras coisas, o risco de suicídios dentro desse grupo vulnerável. Há também equipes religiosas que fazem um bom trabalho de posvenção.
Em nossa região, em Porto União (SC), União da Vitória (PR), e municípios circunvizinhos, está em fase de reativação o Projeto União Pró-Vida, que, além de estar habilitado a prestar apoio emocional e sentimental como prevenção do suicídio, também tem como meta prestar ajuda aos sobreviventes, como posvenção ao mesmo ato, na condição de entidade humanitária, de atendimento gratuito e sem vinculações políticas ou religiosas.
Jonas Paulo
jonaspaulo44@gmail.com
O “tamo junto” é uma gíria que ganhou projeção através do rapper, ator, escritor e ativista brasileiro, MV Bill.
Polêmico e contraditório na sua forma de fazer reverberar a voz da favela Cidade de Deus, na capital do Estado do Rio de Janeiro, Bill até já respondeu na Justiça por apologia ao crime e ao tráfico de drogas, conforme foi amplamente divulgado pela mídia.
De outra parte, em sua dissertação de Mestrado, apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), a antropóloga Karina Biondi, sob o título “Junto e Misturado: Imanência e Transcendência no PCC”, aprofunda os significados, as razões, as circunstâncias e as consequências sociais do “tamo junto”, naquela organização criminosa, e na sociedade como um todo.
Destaco, aqui, um trecho do trabalho da Mestra Karina Biondi, com o propósito de entender o que realmente significa a expressão “tamo junto”. Relata ela que, numa de suas visitas a um dos presídios em que estavam recolhidos membros do PCC (Primeiro Comando da Capital), coletividade que teve sua origem nas prisões paulistas no início da década de 90 e que hoje está presente em aproximadamente 90% das instituições penais, bem como na maior parte das zonas urbanas do estado de São Paulo, perguntou sobre o significado do termo, e alguém lhe respondeu que “é assim, sabe quando tá mais do que junto? Quando tá tão junto que mistura, tipo café com leite?”, ao que ela logo deduziu: “é quando não conseguimos distinguir as unidades, quando não sabemos quando termina um e começa o outro”.
Pois bem, a gíria, antes usada quase como uma senha no linguajar do chamado “mundo do crime”, ganhou projeção, inicialmente de uma forma tortuosa, mas, com o correr dos tempos, aprumou-se, e na atualidade, pelo Brasil afora, é repetida por muita gente preocupada com o bem-estar dos outros seres humanos, dando-lhe um sentido mais amplo, diversificado até, e, na maioria dos casos, significa solidariedade, aproximação, apoio e cumplicidade no melhor dos sentidos.
“O idioma é dinâmico, e o povo é quem o impulsiona, quem lhe dá vida”, reforça a Graduada em Linguística pela Universidade Estadual do Paraná, e Pós-Graduada em Educação de Jovens e Adultos – EJA, pelo Instituto Federal de Educação de Santa Catarina, Josilde Tusset (com quem tenho a felicidade de dividir os meus dias). Neste sentido, o linguajar utilizado nos becos e vielas de uma comunidade, que até virou nome de filme cujo enredo possui cenas de violência, em curto espaço de tempo, também virou dissertação de mestrado em universidade, e reverberou em várias ocasiões entre algumas pessoas entusiasmadas com o Projeto União Pró-Vida de Apoio Emocional e Prevenção ao Suicídio, aqui em Porto União e União da Vitória, demonstrando assim, o caráter evolutivo da Língua Portuguesa.
No sábado passado, 04/03, foi iniciado o Curso de Capacitação de Voluntários destinado a habilitar pessoas de boa vontade que queiram participar do Projeto União Pró-Vida de Apoio Emocional e Prevenção ao Suicídio, para as Cidades Gêmeas do Iguaçu, e municípios do entorno, localizados no extremo norte catarinense, e extremo sul paranaense. A quantidade de candidatos, no caso da nossa região, extrapolou de muito às expectativas mais ambiciosas. O auditório da Secretaria Municipal de Educação de Porto União ficou lotado, sem uma poltrona vazia, sequer.
Perceber que a sociedade local mobiliza-se para encontrar uma solução a fim de amenizar a preocupante onda de reincidências de suicídios e tentativas na região, a partir da Prefeitura de Porto União, comove e emociona quando vemos jovens e adultos também empenhados na busca de se concretizar a reabertura de um Posto de atendimento, direcionado a facilitar o desabafo de pessoas que estejam em crise emocional e queiram conversar seriamente sobre os seus sentimentos, e as questões que mais lhes angustiam.
Não foram poucas as ocasiões em que o “tamo juntos” foi verbalizado e reiterado por parte dos que se inscreveram no Curso, especialmente dirigindo-se aos antigos voluntários que movimentam-se no sentido de se concretizar o projeto. A imprensa, através de seus repórteres e veículos de comunicação, e mais, um advogado e um publicitário, cuidaram de dar o respaldo legal ao serviço que se quer oferecer, e à essencial divulgação, de modo seguro, e tecnicamente corretos, respondendo com ações concretas de que também estão juntos nessa empreitada de amor ao próximo.
Tão rápido quanto possível, juntos, alcançaremos a meta da materialização do Posto de atendimento: é questão de dias.
É a sociedade, como qualquer elemento vivo da natureza, equacionando e trazendo soluções para a questão mais essencial de todas: a manutenção da vida humana, de forma digna e respeitosa, focalizando, neste caso, o viés humanitário do auxílio a pessoas que estejam passando por momentos difíceis, de crise emocional, paralelamente aos serviços de caráter científico, dado pelos profissionais da saúde, e aos serviços religiosos, os quais também devem estar disponíveis para atender as necessidades e preferências dos interessados.
Quando os seres humanos unem-se em torno de alguma causa nobre, evidencia-se aquilo que está na essência da chamada “linha humanista da psicologia”, defendida pelo psicólogo estadunidense Carl Ransom Rogers, isto é, que todos nós, em princípio, temos uma potencial tendência para a prática do bem, e, é bom demais nos percebermos juntos e misturados, como leite com café, quando a sociedade de nossa região está empenhada na busca de proporcionar meios concretos para amenizar sofrimentos, dores morais, e sentimentos muitas vezes difíceis de serem colocados para fora.
O “tamo junto”, de origem nada recomendável, evoluiu, ultrapassou conceitos e preconceitos, migrou de uma coletividade marginal, caiu na boca do povo, e já faz parte de grupos sociais que desejam praticar o Bem. Não seria de admirar se esta gíria, de significado tão forte e abrangente, passasse a fazer parte de algum lema criado para instituições voluntárias voltadas para o serviço de prestação de apoio emocional.
De fato, por mais que muita gente gaste energia forçando separações, criando castas e rótulos voltados para a separação e até o isolamento das pessoas, tudo na vida nos conduz para a união pela vida, no caso da nossa realidade regional deste momento, para um projeto chamado União Pró-Vida. Tamo juntos e misturados.
Jonas Paulo
jonaspaulo44@gmail.com
Quando a Justiça falha e pune inocentes com castigos ou prejuízos morais e financeiros imerecidos, Têmis, a deusa, esposa de Zeus, que personifica o sentido de justiça, é ferida mortalmente no lado da imparcialidade, da busca da verdade e da aplicação da lei e da ordem. Logo ela, que é tida como a protetora dos oprimidos, a diva das leis eternas, aquela que até costumava sentar-se ao lado do trono de Zeus para aconselhá-lo, a que, mais do que a Justiça, encarna a Lei!
Nos anos da década de 1990, nós costumávamos visitar, às quintas-feiras, o Presídio Aníbal Bruno, no Recife, capital do Estado de Pernambuco, com o objetivo de prestarmos assistência religiosa aos encarcerados. Ali presenciei a situação calamitosa e degradante dos quase dois mil presos, onde caberiam menos de oitocentas pessoas. Vi celas infectas, com vasos sanitários entupidos e transbordantes de dejetos; vi seres humanos amontoados em cubículos, com cerca de um palmo de água empoçada, vindas de goteiras e esgotos entupidos; vi também uma cela, apelidada de enfermaria, com 20 leitos, dos quais, apenas cinco tinham colchões, sendo que o espaço era dividido por 31 presos com doenças diversas, inclusive com AIDS (que naquela ocasião, era uma patologia considerada fora do controle da Ciência Médica); tomei consciência, enfim, de que muita gente que ali estava não compactuava com atos ilegais de qualquer gênero: eram pessoas absolutamente arrependidas de ter, por impulso, por descontrole emocional grave, cometido assassinato, por exemplo, após ter chegado do trabalho e, em casa, saber que a esposa, e a filha menor, foram abusadas sexualmente por alguém. Vi homens afundados em depressões intensas, em razão de estarem sofrendo várias violências, e de terem que conviver num ambiente de altíssimo conteúdo de promiscuidade de toda ordem; conversei com bestas humanas, que vangloriavam-se de ter estuprado exatamente aqueles que viviam ali, encolhidos, e não tinham um perfil violento, e que aguardavam liberação da Justiça para tirá-los daquela masmorra, como vítimas da injustiça de estarem encarcerados como inocentes.
Vai aí, então, uma história absurda, relatada, também, pelo noticiário da época.
Em 1976, o então mecânico e motorista Marcos Mariano da Silva, que morava na cidade de Cabo de Santo Agostinho (PE), foi preso e condenado por um crime que não cometera. Na ocasião, viu de perto os horrores da injustiça, cara a cara, olho no olho. O crime do qual Marcos fora acusado, foi praticado por um homônimo seu, que, somente anos após, deixou-se capturar pela polícia, por reincidir na prática de latrocínio (roubo seguido de morte). Somente depois de seis anos de martírio, a Justiça pernambucana assumiu a falha naquele processo contra o injustiçado Marcos, que fora posto em liberdade, mas, não deixou de continuar sofrendo. Três anos após, foi parado numa dessas blitz de rua, e reconhecido por policiais que sabiam que ele estivera preso (mas não sabiam que tinha sido posto em liberdade por ser considerado inocente). O Juiz do caso entendeu que não seria necessário aprofundar-se no processo anterior, e o encaminhou, mais uma vez, para o presídio, onde permaneceu até 1998, como dizia, “comendo o pão que o diabo amassou”. Na nova temporada como presidiário, contraiu tuberculose e ficou cego, para, algum tempo depois, “ver” reconhecido o segundo equívoco da Justiça. Nessas idas e vindas Marcos perdeu 19 anos de sua liberdade. Livre, resolveu pedir ao Estado uma reparação. Em 2011, no dia em que o Superior Tribunal de Justiça de Pernambuco decidiu que o Estado devia ao cidadão Marcos Mariano da Silva, R$ 2.000.000,00, ele sofreu um infarto fulminante, e morreu.
Nas sociedades civilizadas ninguém pode ser processado criminalmente sem o auxílio de um advogado, atuando como defensor. Na Constituição Brasileira, e nas leis de processo penal, a defesa está contemplada como indispensável à administração da Justiça.
A paz, e a tranquilidade social, são abaladas quando são falhos os julgamentos. Justiça só é digna quando é justa, sem folgas.
A falibilidade humana é um fato, e tanto pertence àqueles que praticam os delitos, quanto aos que promovem a Justiça, a qualquer nível.
As tensões, as pressões sociais, e as possíveis e consequentes depressões originadas por elas (as duas primeiras), atinge enorme parcela da sociedade, quer esteja ela dentro, ou fora da lei. A sensação de ser moral e emocionalmente esticado, no limite do suportável, é um fato, bem como é verídica a constatação de que, por vezes, dá a impressão de se ser espremido, esmagado por leis que, muitas vezes desconhecemos, e que, quando conhecemos, não concordamos com elas, apesar de termos que lhes dar cumprimento.
A carga é por demais estressante, e contribui para aumentar as filas de um sistema de saúde que não consegue prover saúde digna. Patologias consequentes às tensões e pressões sociais vão da simples gastrite, passando pela enxaqueca severa, pelos distúrbios cardíacos, circulatórios, nervosos, psíquicos, gástrico em geral, e cânceres.
Nessa luta desigual “do rochedo com o mar e com o ar”, acredito que o Ser Humano em si, é o mais valente, e faz jus a expectativa ditada pelo psicólogo norte-americano, Carl Ransom Rogers, que sugere que somos capazes de encontrar as melhores, mais honradas e honestas saídas, quando estamos nos piores e mais difíceis labirintos.
Submetida a leis engendradas por quem pouco ou nada entende de Direito, há uma categoria de profissionais de nível superior que atua tradicionalmente como uma espécie de para-raios: a dos advogados. Eles se empenham em promover a Justiça, em buscar o “dai a César o que é de César”, mas são criticados por leigos em jurisprudência, que nada sabem de leis, e que são os responsáveis por eleger o Legislativo, que, no caso brasileiro, é de dar dó. Só de pensar que o número de leis por aqui é tão absurdo, e que, apesar de obrigados, raros são os cidadãos comuns, dos mais de 200 milhões de habitantes que leram a mais importante delas (a Constituição), dá para desconfiar que isto não pode dar certo. Uns fazem leis para não serem cumpridas, outros se afogam em pilhas e pilhas de processos gigantescos para serem estudados e julgados, em compasso paquidérmico, e outros, imprensados entre os dois extremos, sofrem as consequências.
Reverencio aqui, esta nobre categoria, nas pessoas do Dr. Odilon Muncinelli, e o Dr. Gilberto Tadeu Dombroski. Ambos entendem profundamente de leis, da Ciência do Direito, e promovem a boa Justiça. O primeiro, também é notável escritor, poeta, acadêmico e fundador da Academia de Letras do Vale do Iguaçu. De lambuja, há alguns anos, nos presenteia com a assinatura da Coluna “Milho no Monjolo”, no Jornal O Comércio. O segundo, é conselheiro estadual da OAB Paraná. Com o seu coração generoso, o Dr Gilberto, quando solicitado, presta assistência jurídica a Associação de Apoio União Pró-Vida, uma instituição filantrópica, que está trabalhando forte para reabrir as portas de um Posto de Atendimento, a fim de prestar apoio às pessoas que estejam passando por crises emocionais de toda ordem, consequentes daquelas tensões e pressões que podem dar origem a depressões leves ou graves, e até ao suicídio.
Jonas Paulo
jonaspaulo44@gmail.com
Desde as já ultrapassadas salas de bate-papo, até chegarmos às atuais redes sociais, pessoas de todas as partes do mundo se acotovelam virtualmente, agarrando-se à oportunidade de sentirem que não estão a sós. O que se quer, pelo que se depreende, é que, na outra ponta, exista um outro ser humano com quem se possa trocar ideias.
A solidão, que muitas vezes não se consegue administrar, tem efeitos danosos, e as redes sociais virtuais, públicas ou privadas, têm o dom de, em termos, contribuir para que se dissipe o chamado “vazio interior”. É como se fosse um bate-papo com os amigos da esquina, levados para o mundo virtual.
Não é segredo que o ser humano é, naturalmente, um ser social e sociável, que sente a necessidade de viver com outros, e que não cultiva o isolamento.
Compartilhar informações, conhecimentos, interesses e esforços na busca de objetivos comuns, nada mais é do que uma forma de troca de conceitos e opiniões, que podem retratar a essência dos sentimentos represados.
O sucesso desse tipo de relacionamento humano da atualidade prosperou desde os primeiros momentos de suas criações, justamente porque aglomeram pessoas que, de forma implícita ou explícita, querem falar, também, das suas emoções, e seus consequentes sentimentos, daquilo que é caro para elas, ou do que as está incomodando, lhes trazendo angústias, sofrimentos, e até mesmo alegrias que gostariam de compartilhar e não têm com quem, ou que gostariam que o mundo todo soubesse.
O médico neurologista, e neurocientista português, António Rosa Damásio, que trabalha no estudo do cérebro e das emoções humanas, é palavra muito respeitada no trato deste tema. Além de seus vários livros, em 2015 ele veio ao Brasil e destrinchou o significado de duas palavras que ainda se confundem no ideário popular, conforme publicou a revista Galileu. São elas: sentimentos, e emoções.
“A emoção é um programa de ações, portanto, é uma coisa que se desenrola com ações sucessivas. Não tem nada a ver com o que se passa na mente (os sentimentos)”.
“Sentimentos são, por definição, a experiência mental que nós temos do que se passa no corpo”.
“Você pode me ver tendo uma emoção, não vê tudo, mas vê uma parte. Pode ver o que se passa na minha cara, a pele pode mudar de coloração, os movimentos que eu faço. Mas o sentimento você não pode ver”, explica Damásio.
Quantas e quantas vezes queremos ajudar alguém (ou a nós mesmos), e não conseguimos distinguir aquilo que é uma emoção ou um sentimento, nem mesmo a qual desses dois devemos dar mais atenção?
Saber a diferença entre emoção e sentimento, serve muito bem para nos compreendermos e as outras pessoas, e neste caso, aceitá-las com as suas dificuldades, suas limitações, seus jeitos de ser.
A emoção pode ser vista, estampada na palidez momentânea da face de quem a está sentindo, por exemplo, no tremor das mãos, no olhar dilatado, no cenho franzido, na taquicardia severa que mostra o coração pulsando acima do normal, ou na dificuldade de respirar com naturalidade. O sentimento, este não é visto externamente, e é consequente daquelas, as emoções. As emoções surgem em consequência de ações produzidas do lado de fora da pessoa, e os sentimentos resultam dessas ações assimiladas pelo intelecto de cada indivíduo, segundo as suas experiências de vida, seus valores, seus modos de ver e reagir ante cada um fato provocador. As emoções são passageiras, e os sentimentos podem ser duradouros.
Quando um bebê sorri, grita ou chora, ele está comunicando uma emoção, e buscando uma resposta adequada, e, se pudesse, falaria do medo que estaria sentindo, ou da raiva, da tristeza ou da alegria, por exemplo.
Quase sempre, ainda que as pessoas falem mais das suas emoções, o que elas realmente querem é falar de seus sentimentos. Se algo as fazem chorar, o que elas precisam é de encontrar alguém com quem compartilhar a tristeza, a decepção, a desilusão, as saudades, os medos que estão sentindo.
Às vezes, esses sentimentos são tão sofridos, que não se conseguem verbalizá-los, jogá-los para fora. O famoso nó na garganta expressa muito bem o que vem a ser essa sensação atroz, que bloqueia pensamentos, dificulta decisões, acabrunha, e até pode trazer um tipo de sentimento grave e perigoso (o de menos-valia, de desvalorização da vida, de baixa autoestima).
Difícil encontrar quem esteja disposto a investir nos próprios sentimentos, isto é: providenciam-se seguros até para topadas e tropeções, mas desconsideram-se os riscos iminentes dos pensamentos que pairam sobre todas as cabeças, e que produzem vulcões e terremotos internos e intensos.
Sentimentos mexem com o mundo, constroem e desconstroem valores, projetos, coisas, instituições, famílias, relacionamentos, amizades; ampliam e minimizam tudo, produzindo situações novas a serem administradas.
Falar dos sentimentos é sempre um dos caminhos para se autoconhecer, se reencontrar consigo mesmo, destrancar as comportas para que fluam melhor os pensamentos, e se encontrem elementos facilitadores do convívio harmonioso, do entendimento, da convergência de ideias (mesmo diante de pontos de vista divergentes), da aceitação do outro, mesmo quando não há completa concordância.
Entre 2004 e 2009, funcionou, ora em Porto União(SC), ora do outro lado da fronteira, em União da Vitória (PR), um Posto de atendimento do CVV – Centro de Valorização da Vida, cujo objetivo era o de prestar apoio emocional, como uma espécie de vacina preventiva contra o suicídio. O serviço, sempre foi e será gratuito, e existe em muitas cidades do Brasil. Aqui na região, a pausa ocorreu por falta de voluntários. Enquanto estava em atividade, ocorreram cerca de 3000 atendimentos, e houve acentuada queda nos índices de suicídios na região.
A solidão emocional, a depressão, os pensamentos de autodestruição que podem surgir independente da vontade de uma pessoa, precisam ter uma válvula de escape através de uma conversa franca, sem barreiras, sem censuras, com respeito e aceitação, quaisquer que sejam as emoções e os sentimentos, e com anonimato garantido.
Sensíveis à recorrência de episódios de solidões emocionais, de estresses severos, de depressões moderadas ou graves, e dos cerca de 30 suicídios computados nas duas cidades Gêmeas do Iguaçu, e no entorno (nos últimos doze meses), um grupo de ex-voluntários e pessoas da sociedade local, apressam-se na organização, em curto prazo, para reiniciarem o atendimento ao público, desta feita, com um novo formato administrativo do Posto, mas mantendo o mesmo jeito de atender, com outra nomenclatura, é verdade, mas nos mesmos moldes de outros serviços similares mundiais. Aguardemos novas notícias.
Muita gente ainda deve lembrar de um personagem vivido pelo ator Luiz Fernando Guimarães, entre janeiro de 2006, e abril de 2010, o Salgado Franco, ou, o Super Sincero, que, como se diz no popular, não tinha papas na língua, e só falava verdades, compulsivamente.
Salgado Franco caprichava no “sal da verdade nua e crua”, na lata, à queima-roupa, mas sempre primando para não transparecer grosseria, como num dos episódios em que ele liga para um amigo informando que não o convidaria para a sua festa de aniversário: “Você bebeu demais no ano passado e foi meio inconveniente. Não vou te chamar mais não, tá?”.
A proximidade do carnaval me inspira a compartilhar algumas reflexões sobre os nossos esforços em carregar pesadas máscaras pela vida afora.
Não é de hoje que elas, as máscaras, exercem um grande fascínio sobre as pessoas. Criadas e usadas com a intenção de fortalecer, iludir ou transfigurar a identidade, elas podem, também, serem objetos de arte, ou de devoção em várias culturas, estando, inclusive, associadas a ritos e práticas religiosas.
Há máscaras que representam verdadeiras carantonhas, à semelhança das famosas carrancas usadas na região do Rio São Francisco, com traços fisionômicos grotescos, exagerados, disformes, e feitas, segundo a crença, para afastar os maus espíritos.
Por falar em caras feias, lembro de alguns grandes amigos e pessoas diversas que influíram de forma decisiva em minha vida, que caracterizaram-se por atitudes exemplares, dignas de um coração privilegiado e carregado de bondade extrema, ornado de muita sabedoria, porém, sem possuírem o privilégio da beleza estética. Mas, também me deparei com viventes de fisionomia com traços suaves, de uma beleza de dar inveja a muita gente, entretanto, com seus corações sobrecarregados de perversidades.
No aspecto das subjetividades humanas, na área dos sentimentos, é comum adotarmos posturas de conveniência, conhecidas como “verniz social” (que serve para mascarar nossos defeitos). Esta espécie de regra tida e adotada como “facilitadora do bom convívio social”, abarca as normas de etiqueta, de comportamento, os dogmas, as superstições, as questões culturais, religiosas, de criação, educação e costumes, a falsa moral e a ética. Só para ficar num exemplo, contido no momento histórico que vivemos, basta lembrar das questões que envolvem as delações premiadas, que estão na moda, e a expressão que tenta avacalhar com a respeitável Ciência Política: o “ser político, ou ser politicamente correto”, a se entender com isto, que o ideal seria “ser vaselina”, bom de lábia, maneiroso, com habilidades suficientes para adaptar as próprias ações e opiniões, conforme a conveniência.
Ao par disso, correndo em paralelo, quem ainda não se deparou, ou teve notícia de alguém que procura se esmerar no árduo esforço de ser uma coisa e parecer outra, como algumas figuras que gostam de pavonear-se, sempre bem-vestidas, com modos educados e sóbrios, mas que, logo se descobre que são useiros e vezeiros na “arte” do estelionato, da vigarice, da enganação?
Usado para ocultar interesses econômicos ou sociais, intelectuais ou sexuais (incluindo nisto os chamados desvios da sexualidade), a violência física, as taras e os vícios, o verniz social procura dar um traquejo nas aparências, camuflando inconfessáveis intenções.
A tendência humana de apelar para a falsidade e a hipocrisia nas nossas relações, deixando de lado a sinceridade, acreditando-se que não vale a pena ser tão sincero quanto a personagem desempenhada pelo ator Luiz Fernando Guimarães, incomoda a todos nós, e constrange.
Dizemos abertamente, contudo, que não gostamos de mentira, entretanto, vivenciamos, por vezes, o desconforto da ambivalência, de ficar dividido entre dois sentimentos opostos, antagônicos, de tal modo que, se alguém nos convida para uma festa, um almoço ou jantar, e não queremos comparecer por algum motivo, inventamos alguma desculpa “só para não ferir”, em vez de dizer a verdade (que não queremos ir), simplesmente, (o que, se fosse o caso, colocaria em risco a amizade, apenas, pela via da sinceridade, e não pela ultrajante mentira).
Depois de acumularmos uma imensa tranqueira de sentimentos pesados, que refletem, por exemplo, falta de lealdade, resta-nos, quando assim caminhamos, curtir alguns momentos de consciência pesada, de sobressaltos para manter e consolidar a primeira inverdade, aplicando outras tantas, e subsequentes mentiras.
A este respeito, apontando para aquelas iniciativas usadas a fim de escamotear as nossas atitudes fingidas, de falsas aparências, o jornalista, poeta, romancista, contista, cronista e ensaísta, Lêdo Ivo, no livro “Confissões de um Poeta”, garante que “…Na vida, precisamos sempre usar máscaras, pois ninguém nos reconheceria se nos apresentássemos de rosto nu”.
Continuam em vigor alguns antigos provérbios populares que ensinam que “nem tudo que reluz é ouro, e nem tudo que balança cai”, “as aparências enganam”, e “quem vê cara, não vê coração”.
Jonas Paulo
jonaspaulo44@gmail.com
O prefeito Semprônio usou de sua autoridade e prestígio para influir no pretenso casamento de seu filho, Caio, com a jovem Inês (ainda menina), de apenas 13 anos.
A bonita adolescente não gostou da ideia e repeliu a pretensão.
À força, e por ordem daquela autoridade, a adolescente foi despida e exposta num prostíbulo no Circo Agnolo. Entretanto, em razão da grande força moral da garota, os jovens a respeitaram, e um deles que tentou a assediar sexualmente, foi punido com a cegueira, mas, logo recuperou-se, graças às orações de Inês.
Esse episódio, em que há uma espécie de maracutaia política, ocorreu há muito tempo, na Roma do século IV.
Conta a história que, na sequência desses fatos, Inês fora enviada à fogueira e nada sofreu, mas, vítima da perseguição de Diocleciano, no ano 304, decapitaram-na, e seus restos mortais encontram-se na basílica que tem o seu nome, em Roma, com exceção da cabeça, que é venerada na igreja de Santa Inês, na piazza Navona, num cofre feito por ordem do papa Honório III.
Nos dias atuais as tradições católica e ortodoxa, dedicam o dia 21 de janeiro aos festejos e à memória litúrgica de Santa Inês, a padroeira da castidade, das adolescentes, dos jardineiros, noivos, vítimas de violação e virgens. Neste dia, o papa benze os dois cordeiros com cuja lã serão tecidos os pallia, símbolo da autoridade dos arcebispos.
A finalidade dos códigos morais é reger a conduta dos membros de uma sociedade, de acordo com princípios de conveniência geral, para garantir a integridade do grupo e o bem-estar dos indivíduos que o constituem.
Alguns preceitos do antigo Egito (cerca de três mil anos antes da era cristã), como, por exemplo, na máxima “não zombarás dos cegos nem dos anões”, e do Antigo Testamento, em que dois dos dez mandamentos proíbem que se deseje a propriedade ou a mulher do próximo, sugerem que a ética e a moralidade sejam setas orientadoras da sociedade como um todo.
Dito sem meias palavras, quem tem vergonha na cara não cogita de utilizar-se das conveniências com o intuito de levar vantagem, enturmando-se em grupos políticos ou corporativos, a fim de conquistar projeção, regalias e cargos, pois, antes disso, pensa nas responsabilidades que os encargos requerem para o seu bom desempenho.
Aliás, e a propósito, tornou-se corriqueira a presença de apadrinhados nos vários escalões do serviço público, tanto por conveniência eleitoreira, ou tanto por mero nepotismo mesmo, tisnando aquilo que poderia traduzir-se por “força moral” do bom administrador da coisa pública.
Chateia e até constrange, dia sim e dia não, e dia não e dia sim, assistirem-se noticiários que reportam cenas de roubo e apropriação indébita de cargas tombadas nas rodovias, pelos ditos cidadãos comuns, contagiados que são pelos maus exemplos dados por muitos membros do Poder Legislativo, presos por corrupção, roubo ou desvio. Quer dizer: se quem faz as leis rouba, o que dizer daqueles que nada sabem de leis?
Não sai da minha mente a imagem de vereadores algemados tomando posse, e posteriormente sendo recolhidos aos presídios. A cena de uma vereadora da cidade de Guaíba (RS) sendo conduzida para a cadeia, acusada do desvio de toneladas de papel higiênico, 100 litros de detergente, 200 quilos de carne, e material de escritório, entre outras coisas, guardadas num grande galpão de sua casa, e comprados com o dinheiro público, e que seriam destinados a instituições sociais que atendem a criancinhas, revela que, como sociedade, perdemos o rumo, e estamos à deriva, descendo algum fosso nas profundezas do absurdo. Também, pudera: mais acima da cadeia (hierárquica), parlamentares estatuais, e federais, membros e ex-membros do Poder Executivo Federal, não param de dar sérios e graves motivos para aumentar a população carcerária, que se contorce para caber em espaços insuficientes, rotulados de “segurança máxima”, e de péssima reputação como instituição criada para conter e reeducar criminosos.
Sai Obama e entra Trump, na condição de líderes da maior potência mundial, e o restante do mundo fica perplexo (e um tanto atônito) diante da reviravolta dada ao novo perfil dos representantes do governo norte-americano, sinalizando a volatilidade dos valores de uma nação, como a dizer que aquilo que antes podia e devia, a partir de agora não pode, nem deve mais (e vice-versa), sempre ao sabor das conveniências do momento.
Um tanto ou quanto atrapalhada nas escolhas, a sociedade experimenta sabores e dissabores político-ideológicos, escolhendo líderes ora com o perfil de bombeiros, ora com o perfil de incendiários.
Há muito, por aqui, em “terras brasilis”, a ética e a moralidade não fazem parte do naipe de atributos que se deveriam exigir dos candidatos a cargos públicos. E isso tem um preço, uma consequência.
É indecoroso, mas é assim que estamos: nesta semana conseguimos a proeza de cair mais três posições no ranking da ONG Transparência Internacional, que aponta a percepção da corrupção no mundo, conforme o relatório de 2016. Numa pontuação de zero a 100 (onde zero é igual a “extremamente corrupto”, e 100 equivale a “muito transparente”), permaneceram em 1º lugar a Nova Zelândia e a Dinamarca (ambas com 90 pontos); o Brasil, a Bielorrússia, a China e a Índia, ficaram no 79º lugar, todos com 40 pontos; e a Somália, na rabeira, em 176º lugar, só alcançou 10 pontos, como o país mais corrupto do mundo.
Se, por um lado, juízes dignos e honrados esforçam-se para julgar e punir exemplarmente os alérgicos a honestidade, por outro, como a mostrar que as leis brasileiras estão frouxas o suficiente para o crime compensar e prosperar, a romaria de novos candidatos a presidiários não para de crescer, aumentando a população carcerária.
As decisões, ou indecisões políticas, tomadas por conveniência, embasadas na incompetência (premeditada ou não), mexem com o ritmo e a vida das pessoas, e estremecem qualquer estrutura da economia familiar, e do setor produtivo, possuindo uma força devastadora, requerendo que o povo reaja com força moral superior, para impedir que, a exemplo do que aconteceu com a santa romana do início deste artigo, venham a nos despir da vergonha, da indignação e passemos a acatar o despudor de alguns caciques como modelo ideal de ser.
Jonas Paulo
jonaspaulo44@gmail.com
É evidente que ninguém é igual a ninguém, e que também é verdade que ninguém conhece ninguém.
Por carregarem dentro de si um grande desconhecido, muita gente “mete os pés pelas mãos”, e reage de forma atabalhoada, com graves prejuízos para si, ou para outrem.
A ideia do autoconhecimento vem da antiguidade, e ainda hoje não se sabe ao certo quem pensou e pronunciou pela primeira vez o famoso “Nosce te ipsum”, ou, em português brasileiro, “Conhece a ti mesmo”. De tão importante que é, esta máxima continua petrificada em uma das pilastras, lá nas ruínas do templo de Apolo, em Delfos, na Grécia.
É por falta de autoconhecimento que algumas pessoas tendem a avaliar mal determinadas circunstâncias e contextos em que estejam inseridas, levando-as, em consequência, a tomarem decisões desatinadas, que, vistas de longe, até parece que essas criaturas jogam contra elas mesmas.
Pessoas tidas como destrambelhadas, podem aparentar essa condição porque ainda não conseguiram a habilidade da autocrítica, do hábito de conferirem as suas próprias histórias. E, se o fazem, quando fazem, em alguns pontos não conseguem se perdoar, nem se tolerar, e não encontram forças nem jeito para desatar os nós que elas mesmas deram, ou que terceiros contribuíram para ser dado.
Há ocasiões na vida que são tantas as dificuldades, a complexidade e a diversidade de problemas, que a pessoa se imagina no olho de um furacão, e o descontrole pode acontecer.
Nessas horas, o ideal é se encontrar um jeito de desabafar, de falar para ouvir tudo aquilo que está engasgado, preso dentro de si, como se estivesse sufocando, atrapalhando o raciocínio claro, objetivo.
Há quem consiga desabafar na frente de um espelho, por exemplo, na solitude de um quarto, “falando com seus próprios botões”, como se dizia antigamente, mas a maioria carece de um outro par de ouvidos humanos, confiável, que interaja no momento próprio, e que não oferecerá resistência, nem censura, crítica desfavorável ou desaprovação.
Nesse ponto, por oportuno, convém lembrar que quem pretende ajudar ouvindo desabafos, precisa também se autoconhecer, saber muito de si mesmo, de seus limites, de suas próprias dores, de suas virtudes, para bem empunhar o leme na direção das próprias emoções, ante aquilo que ouvirá de quem está buscando ajuda.
Não que a experiência e a sabedoria de quem ouve seja modelo a ser ofertado para aliviar o cansaço emocional de alguém, porque a grande sacada é entender e aceitar que “cada um sabe de si”, e que, por mais esforço que se faça, por mais intimidade que se tenha, não há como saber detalhes insondáveis da história de vida de outra pessoa.
Assim, embora seja tentadora a vontade de apontar soluções, há o grande risco da dica ser a maior furada, na verdade, de beirar uma irresponsabilidade.
O que vale mesmo é ajudar para que a outra pessoa consiga caminhar com os próprios pés, através de seus caminhos planos ou pedregosos, de aclives ou declives perigosos, traiçoeiros, mantendo-se ao lado dela, parceiro, apenas dando-se ao trabalho de manter a lanterna ou a lamparina da solidariedade acesa.
Colocar respostas que demonstrem compreensão daquilo que está sendo dito pelo interlocutor, para que ele mesmo reflita com profundidade sobre aquilo que está dizendo, é uma das boas formas de auxiliar no encaminhamento do processo de autoconhecimento de outrem, e do seu desabafo propriamente dito.
Nada mais penoso do que procurar, sem encontrar, quem se disponibilize a ouvir aquilo que eu gostaria de compartilhar sobre os conflitos que me sufocam, as minhas inseguranças, incertezas, meus medos e minhas decepções, e até mesmo acerca das minhas alegrias e felicidades. A quem comunicar tudo isso?
A pressa, os preconceitos, as respostas prontas, frustram todas as tentativas de alguém que esteja passando por maus bocados animar-se a pedir ajuda para tentar reorganizar o seu emocional.
O “saber ouvir” é uma arte pouco cultivada no cotidiano de muita gente. A pressa pode nos levar a uma das mais graves imprudências: a de não ouvir com atenção, respeito, compreensão e aceitação, àqueles com os quais, de alguma forma, estamos vinculados.
Perdidos entre pressas e pressões de toda ordem, carregamos dentro de nós mesmos um grande desconhecido, e nem pensamos duas vezes quando surge a oportunidade de dar um pitaco na vida de alguém que esteja em crise emocional. Isto é, pensando que sabemos tudo de nós mesmos, que possuímos inteligência, sabedoria e experiência suficientes, isto nos habilitaria a apontar caminhos que, de fato, se assemelham a atalhos rápidos, e sem fundamentação, precipitados, faltos de cautela.
A tendência é dar errado quando avaliamos apressadamente e apontamos saídas que seriam apropriadas para a nossa própria realidade, distantes do universo da outra pessoa.
A sociedade, a todo instante, vivencia rápidas transformações, as quais propiciam mudanças substanciais em princípios e valores tradicionais, tais como casamento, família, religião, amizade, relacionamentos afetivos, e modelos de ética, honestidade, e moralidade, entre outros, cujos padrões fogem da unanimidade, e variam ao sabor dos tempos.
Jonas Paulo