A omissão do Iguaçu em um domingo de não-futebol para jamais ser esquecido
Marcelo Storck – Jornalista
Ao final daquele martírio de anteontem, deparei-me com um velho (estamos) amigo meu nas cadeiras do estádio e, entre outras, concordamos que é preciso separar as coisas. Separar momentos. Assim, agora que inicio esta crônica, tenho obrigação de deixar de lado o coração do Diretor de Comunicação para ouvir mais a cabeça do jornalista que há 34 anos cobre as atividades da Pantera do Vale.
Estava tudo pronto e muito bem preparado para a estreia do Iguaçu na Divisão de Acesso 2023 no último domingo (30 de abril). Só esqueceram de avisar o adversário Patriotas FC, de Curitiba, que venceu por 2 a 0 a partida válida pela abertura da competição.
Espera. Deixa eu mudar isso.
Não avisaram foi o time profissional do Iguaçu que não compareceu ao Estádio Antiocho Pereira. Havia em campo, sim, um grupo de atletas vestindo as cores azul e amarelo, porém, irreconhecível. Longe, mas muito longe das capacidades daquele elenco do papel que, com muito sacrifício, a diretoria e seus apoiadores contrataram com base na confiança do currículo profissional de cada um. Mais distante ainda do grupo que teve 47 dias de pré-temporada e chegou a vencer, por 2 a 0, o São Joseense (1ª Divisão do Paraná) em jogo preparatório. E infinitamente afastado daquilo que eu – seja neste parágrafo como torcedor, diretor ou jornalista – referendei aos apaixonados por esse time antes desse desastre inimaginável. Perder faz parte. Mas há formas mais honradas para isso, concordo.
Se havia sensação de que com “um time melhor do que anos anteriores” e com um trabalho de treinamento mais lúcido comandado por Ageu Gonçalves as coisas sem encaixariam no sonho de qualquer torcedor iguaçuano, ela agora se dissipa e se mistura ao natural receio.
A inexplicável omissão dos atletas em campo que abdicaram do que sabem fazer causou danos consideráveis a ponto de atingir aquilo que o Iguaçu tem como maior patrimônio: seu torcedor. A maior parcela das quase 3 mil pessoas presentes ao estádio municipal de União da Vitória está coberta de razão em se sentir decepcionada. Todos estamos, afinal, quem vive o Iguaçu nesses seus 51 anos sabe que jamais houve um comportamento tão ruim da equipe local. Time apático, perdido em campo, que não repetiu uma vez sequer algo que tenha sido treinado. E foi bem treinado, eu vi. Mas que, diferentemente de tudo, deu apenas dois arremates sem direção nos 90 e poucos minutos de partida. Ou seja, "sem garra e amor à camisa".
Sequer dá vontade de analisar. Sabemos que tomamos dois "gols bobos" e que não está fácil encontrar uma explicação plausível para tamanha ausência de futebol. É como se tivéssemos desaprendido a andar de bicicleta.
Porém, mais injustificável ainda foi isso: infelizmente, um pequeno grupo de pessoas não-torcedoras proporcionou episódios de racismo, chegando a cometer ameaças e violência contra idoso (Crime previsto em lei, Constituição Federal, Estatuto do Idoso - Lei 10.741/2003 - e Código Penal). O clube já identificou os autores por meio das imagens de câmeras de segurança espalhadas pelo estádio e pela sede. O departamento jurídico já tomou providências.
Por tudo acima exposto, os desafios do Iguaçu agora são maiores nesta temporada 2023. Recuperar significa buscar pontos fora de casa. E, para isso, no lugar de perder a cabeça, é preciso ter iniciativas coerentes e civilizadas. E, principalmente, confiar num ressurgimento do futebol do elenco que aqui está. Fazer o que diretoria e comissão técnica já começaram desde a reunião na tarde de ontem (1º), não por acaso o Dia do Trabalho. Isso. Ao trabalho, pois. Tal qual também fez ontem a base, que se prepara para o difícil jogo de sexta-feira (4) contra o Operário, em Ponta Grossa pelo Paranaense SUB 20 (foto abaixo). Já o Iguaçu profissional buscará a reabilitação domingo (6) diante do Apucarana, de novo em União da Vitória. Tomar iniciativas. Exatamente o que mais faltou para o time do Iguaçu em sua estreia, num dia para jamais ser esquecido. Que deste trágico domingo de não-futebol, tiremos as lições necessárias e partamos para o que nos resta que é demonstrar a hombridade de cada um: dentro e fora das quatro linhas.
