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Brasil do terrorismo: a diferença política sustentando a indiferença com vidas


Maestro Roberto Farias, na Câmara de Cubatão: apelo à classe política do município em relação ao eficaz instrumento de formação social que é a arte | Foto: Rodrigo Palassi


Por Marcelo Storck*


Ainda estamos assustados com tudo o que vimos e ouvimos desde que, inexplicavelmente, um indivíduo assassinou quatro crianças em uma creche em Blumenau (SC) na manhã de ontem (5). Não há palavras, mas, insistentemente vamos a elas.


Tão logo terríveis levantamentos jornalísticos ganharam o mundo, mostrando mais uma vez toda vulnerabilidade de nossas escolas e o ambiente doentio de parte de nossa sociedade, medidas de reforços passaram a ser anunciadas no cenário político. É sempre assim. Morrem inocentes (nesse caso sem adjetivos que o definam: são quatro pequenos anjos) sempre vêm à tona as posições políticas de “providência imediata”. O governo federal anuncia que liberará mais recursos, o estadual que reforçará o policiamento, o municipal que colocará portões eletrônicos e detectores de metais. Não que eu critique essas atitudes, pelo contrário. Apenas é preciso lembrar que elas sempre aparecem como cortina midiática em situações como a que, não sei como, os blumenauenses precisam ter forças para agora enfrentar. E também, porque segurança não é só isso.

É fato. Em instantes, essas mortes virarão estatísticas enquanto voltaremos a discutir nossas diferenças mesmo que indiferentes das vidas pelas quais deveríamos zelar tanto - senão ainda mais - quanto a força do aparato de segurança que nossos maiores líderes têm à sua disposição. Apesar de válidos e mesmo que atrasados desde o registro da ocorrência fatal em escolas brasileiras anterior a Blumenau, é preciso destacar, por fim, diante de tais propostas de reforço: o assassino de ontem, em surto, pulou o muro da creche para avançar sobre as crianças. Ou seja: ele sequer teria passado por uma portaria mais segura, pelo detector de metais ou pelas câmeras de segurança que, ainda assim, precisam sair do discurso político para a prática cidadã. Então, como evitar? Verdadeiramente difícil. Mas, pior, é não agir.

Entendo que há meios não eletrônicos de auxiliarmos no combate a tal avassalador índice de chacinas e isso passa pelos investimentos na educação. Natural que, enquanto maestro, jornalista e político, ao adicionar aqui toda e qualquer atividade extracurricular, eu precise listar a potência que a música tem como medida preventiva de combate ao crime. E, por favor, paremos com esse bordão eleitoreiro ultrapassado de que “a arte retira das ruas”! Na verdade, ela impede que se vá. Depois que foi, é mais difícil retirar. E é sempre longe dessas boas atividades cotidianas extracurriculares que se potencializam ações infelizes como a de ontem.


A arte como arma

Quem me conhece bem imaginaria que agora, nesse momento, eu passaria a versar sobre a associação da qual sou fundador, o Instituto Sempre Incentivando Música (SIM) , e seu calvário para convencer gestores políticos acerca de suas validades. Hoje, União da Vitória para nós é uma exceção em nossa sempre dura caminhada .


Desse modo, o exemplo vem de longe. Uso do artigo publicado no Jornal Comércio & Indústria (JCI) - Ed. 107 – Abril de 2023, assinado pelo Maestro Roberto Farias, para mostrar o quanto a indiferença política pode causar diferença social de modo negativo. O Comendador, Chanceler, Imortal da Academia de Música do Brasil e Coordenador dos Grupos Artísticos de Cubatão, Maestro Farias, aborda mais uma vez a delicada situação dos Grupos Artísticos daquele município: “Do Apogeu às Ruínas”, como bem definiu.

E olha só que interessante esse trecho: “Lamentavelmente, contrariando o que prenunciou o escritor cubatense Afonso Schmidt, criador de Zanzalá – Cubatão do Futuro, a Cidade vive na última década um constante declínio, não só na produção artístico-cultural, como também no esporte, esse que outrora foi uma das grandes referências em nível sul-americano”. Isso. Prevenção está em tudo, no que incluo a religião de cada um de nós.


Farias faz mais um desabafo diante da patente omissão do Poder Executivo que nos últimos cinco anos não se dignou a adotar um posicionamento claro e oficial, demonstração grande indisposição para o diálogo sobre o destino dos Grupos Artísticos de Cubatão, esses mesmos que declarou Patrimônio Cultural Imaterial do Município.

Friso que não há combustível maior para terrorismo social do que a indiferença política.

Então, fica claro que enquanto as práticas não corresponderem aos discursos – no Brasil, os discursos é que se ajustam às práticas -, viveremos sob o constante temor em assistir à próxima notícia acerca de fatalidade gerada por pessoa desassistida: seja de mais segurança nas escolas e de verdadeira educação em suas vidas. __________

Marcelo Daniel Storck é empreendedor, jornalista, pós-graduado em Regência Orquestral e graduando em Licenciatura em Música

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