Delação de Alberti cita casos amorosos e locais onde dinheiro em espécie era dividido em Canoinhas

Nilson Cochask, ex-secretário de obras de Canoinhas, fez campanha contra a corrupção durante eleição municipal. Delação de Alberti diz que ele tinha mesma amante que outro empresário da quadrilha, uma funcionária da prefeitura de Canoinhas e integrante do esquema. Os três estão presos.
Segundo a colaboração premiada do prefeito de Bela Vista do Toldo (SC), Adelmo Alberti (PSL), que desencadeou a 7ª fase da operação Operação Et Pater Filium, o esquema iniciado por ele com o empresário Joziel Dembinski em seu município e se estendeu para Canoinhas (SC) em 2020 liderado por Beto Passos (PSD) e Renato Pike (PL), além do secretário de Obras à época, Nilson Cochask. Há indícios, no entanto, que o esquema que já existia desde 2017 foi ampliado em 2020 com a compra de dois caminhões por Passos. As informações são do Portal JMais.
Alberti contou que, no começo de 2020, aconselhou Passos a comprar um caminhão ou máquina para ampliar os ganhos com o esquema. Alberti disse que esse dinheiro seria dividido entre eles, mas também para dar suporte à estrutura de futuras candidaturas e que para não levantar suspeita os equipamentos ficariam no nome de Dembinski, pessoa de confiança, nas palavras de Alberti.
Passos não só gostou da ideia como comprou dois caminhões (R$ 162 mil cada) em Curitiba, deixando vários rastros, como pagamento de pedágio, imagens de câmeras de monitoramento e até uma foto de Dembinski postada nas redes sociais em que aparece ao fundo a caminhonete de Cochask, que acompanhou Passos na compra.

Foto do veículo comprado por Dembinski mostra parte de caminhonete de Cochask/Reprodução

Passos foi flagrado em Curitiba no dia em que comprou os caminhões. O MPSC tomou o cuidado de comprovar que era ele mesmo comparando a imagem feita por câmera de segurança com foto tirada pela assessoria de Passos no gabinete com a mesma roupa/Reprodução
O acordo era para que Passos pagasse por um dos caminhões e Cochask pelo outro, porém, Cochask não teria cumprido o acordo. A decisão de tirar o ex-secretário de Obras do esquema teve consequência. As revelações estão na denúncia que o Ministério Público deve apresentar oficialmente nesta semana à Justiça.
Amanda Suchara, funcionária da prefeitura apontada como um dos elos do esquema, inicialmente, segundo Alberti, era amante de Cochask. Mas ela teria provocado a discórdia ao se envolver amorosamente com Dembinski, gerando atrito entre os dois.
Cochask teria ameaçado entregar o esquema e, para calá-lo, Dembinski teria aceitado pagar R$ 100 mil para escapar da chantagem.
As entregas de dinheiro, seja fruto de propina ou de chantagem, eram sempre feitas em lugares ermos, como o trevo de acesso a Major Vieira. Um carro seguia o outro e os integrantes da suposta quadrilha se reuniam pouco antes do trevo para dividir os lucros do esquema que seria comandado por Beto Passos e Renato Pike e que tinha como comparsas Dembinski, Cochask, Alberti e Amanda, além de Marcio Passos, irmão de Beto tido como operador financeiro do então prefeito. Todos estão presos desde 29 de março.
Passos, sempre acompanhado do irmão, Marcio, esperava os comparsas dentro do carro para receber os pagamentos em espécie. Para combinar os encontros, Passos tratava Dembinski como “secretário da Saúde”. A ideia era aproveitar a pandemia para não levantar desconfiança caso as conversas, que eram apagadas logo em seguida, caíssem em mãos indesejadas.
Alberti confirmou uma desconfiança levantada pelos vereadores de oposição no ano passado. De fato, segundo ele, havia alteração no número de horas trabalhadas efetivamente pelos caminhões de Dembinski no cumprimento dos contratos com Canoinhas a fim de aumentar a lucratividade. Dessa forma, o prefeito de Bela Vista do Toldo acredita que 20% do valor pago pelo serviço de Dembinski eram desviados para o esquema.
EVIDÊNCIAS
Conversas por WhatsApp interceptadas mostram diálogos entre Cochask e Dembinski. Em um deles eles falam em “reina” e “saudades”, o que para o MPSC é tradução de pedido de propina.

Um dos encontros aconteceu na casa de Cochask, o que o MPSC conseguiu comprovar analisando os dados de geolocalização do celular de Dembinski. Quando Alberti foi preso, o Gaeco descobriu um barracão usado para guardar os caminhões de Passos que estavam no nome de Dembinski. Esse barracão estava no nome de Alberti.
Nos dias em que possivelmente houve a efetivação da compra dos caminhões de Passos, a empresa de Joziel Dembinski recebeu diversos depósitos e transferências bancárias dos municípios de Bela Vista do Toldo e do município de Canoinhas, decorrentes de contratos fraudados nos dois Municípios chefiados por integrantes do esquema.
Em 12 de maio de 2020, por exemplo, Dembinski recebeu R$ 91 mil da prefeitura de Canoinhas. Um dia antes tinha recebido R$ 82,7 mil da prefeitura de Bela Vista do Toldo. Os caminhões foram comprados em 11 de maio. “Como se nota, a organização criminosa utilizou recursos públicos para a aquisição dos caminhões, ocultando e dissimulando a sua origem espúria para fortalecer a sua atuação e enriquecer os integrantes da organização”, aponta o MPSC.
Além disso, no mesmo período, Passos sacou de sua conta pessoal R$ 49 mil em dinheiro. Marcio Passos, seu irmão, fez dois saques de R$ 49 mil e R$ 22 mil.
“Firmado o acordo, a organização criminosa passou a contar com a distribuição de tarefas para seus integrantes. O então secretário de obras, Nilson, além de sócio no esquema, por ser naquele momento o gestor fiscalizador da pasta administrativa pertinente ao contrato, passou a atuar no acobertamento da incompleta prestação dos serviços, contando para isso com a imprescindível ajuda de Amanda (Suchara), que era responsável pela fiscalização direta dos contratos, para dar ares de legalidade aos serviços supostamente prestados pela empresa de Joziel com as máquinas e veículos pertencentes, de fato, a Adelmo, Gilberto dos Passos e Nilson”, sustenta o MPSC.
Com os caminhões comprados e prontos para trabalhar, iniciou-se a operacionalização do esquema, que consistia, em um primeiro momento, em fraudar licitações.
Quando Dembinski foi preso, o MPSC requereu ao Município de Canoinhas a documentação sobre os oito contratos vigentes à época entre a empresa de Dembinski e a prefeitura (no total a empresa já tinha assinado 24 contratos com o Município). Segundo o MPSC, a documentação veio incompleta, o que causou ainda mais desconfiança.
Mesmo assim, com base no que foi analisado, o MPSC concluiu que “ficam evidentes os elementos de frustração ao caráter competitivo dos certames, com o propósito de garantir vantagens financeiras para os integrantes da organização criminosa.”