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Os desentendimentos como delineadores da cultura musical no Brasil

Marcelo Daniel Storck Jornalista (DRT 8108) e maestro A realização por meio da música não está em, apenas, transformar sons em apresentações artísticas. O elemento cultural em questão é capaz de direcionar a caminhada profissional - de transformar - mesmo quando há pelo percurso desentendimentos. E não é uma exclusividade de projetos locais. Para não ser bairrista e como de costume evidenciar feitos e artistas locais por meio de nossos grupos, “vou a Cubatão", no estado de São Paulo, para trazer essa confirmação de que a música também harmoniza processos culturais e sociais regionais. Há muito em comum.


Assim, aqui, o termo “desentendimento” pode ser aplicado de modo duplo: para os geradores de cultura e para aqueles que dela se servem.


Devido minha imensa admiração pelo trabalho comandado pelo Maestro Roberto Farias naquele município, coisa que remonta à época do vinil e de minha franja, tenho torcido pelo retorno dos Grupos Artísticos de Cubatão, demanda que depende do travamento de queda-de-braço com o prefeito Ademário da Silva Oliveira (PSDB), gestor que recentemente, como você leu aqui no A2, interrompeu a subvenção prevista em Lei municipal. Mais um desentendimento, pois. Mas o mote hoje não é bandeirar apenas em favor da importante atividade cubatense, cujo semelhante desafio em busca de apoio me deixa “confortável” em saber que não se trata de algo particular, mas sim de uma pobreza de concepção cultural de muitos gestores públicos brasileiros "que lá" chegam batendo bumbo durante eleições, elogiando os grupos artísticos de um modo geral, mas quando trocam a baqueta pela caneta é só pausa. Assim, me debruço sobre o artigo do Maestro Farias, assinado na edição de Junho de 2022 da revista Comércio & Indústria de Cubatão (SP), para destacar a digna abordagem à trajetória de sucesso de mais um daqueles que passaram pela frente de sua batuta.


Neste caso, o instrumentista, professor, compositor e regente Fernando Morais.

Natural de São Vicente (SP), no início da década de 1980 Fernando se viu atraído pelo movimento musical, ingressando na Escola de Música da Banda Musical de Cubatão, tendo como primeiro instrumento o trombone, cuja afinidade vinha da sonoridade do seu primeiro instrumento, “o cornetão”, do qual era executante ainda sem conhecimento musical numa fanfarra escolar.

(Me contradizendo e sendo bairrista para aproveitar o gancho: quem aqui das Gêmeas do Iguaçu se lembra das importantes fanfarras Cadência, Fascinação ou Falcões Dourados?)~.


Passados alguns meses de estudo sistemático do trombone, Fernando, sempre muito determinado e dotado de um alto grau de ansiedade em se tornar um grande músico, passou a enfrentar dificuldades na relação professor-aluno com o seu orientador musical, o que o levou a “desistir da música”. Por algumas horas. Bastou comunicar sua precipitada decisão (vemos) ao Maestro Roberto Farias, então Coordenador Geral do Projeto Musical em Cubatão, para ser aconselhado a mudar de instrumento – e de professor – para se confortar. Escolheu a trompa, instrumento responsável pela produção da primeira safra de músicos profissionais daquele município.

Fernando Morais, homônimo do grande escritor brasileiro autor de best sellers como Olga), se profissionalizou nas fileiras da FAB – Força Aérea Brasileira, onde permaneceu por um ano, seguido de um estágio na Orquestra Sinfônica de Campinas e efetivado três meses depois, sob a condução do lendário Maestro Benito Juarez (em memória).


Em 1999, prestou concurso para a Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional Cláudio Santoro de Brasília, transferindo-se definitivamente para a Capital Federal no ano de 2000. No ano de 2001, ingressou por concurso na Escola de Música de Brasília, como professor de trompa.


Os arranjos musicais foram a base para o desenvolvimento e consolidação da carreira de compositor, sendo que em 2003 ganhou o seu primeiro Concurso de Composição em nível nacional. A premiação em dinheiro foi revertida, quase que integralmente, em investimento em equipamentos para melhorar as suas ferramentas composicionais.


Seguiram-se mais quatro prêmios de composição, sendo um deles em nível internacional e que em vinte e dois anos como compositor, já conta com um catálogo de aproximadamente noventa obras, cinco métodos editados e mais cinco por editar. Hoje, suas obras têm sido tocadas tanto em solo brasileiro quanto na Europa e Estados Unidos.

Um artista revelado graças ao profícuo movimento artístico, sobretudo na área da música na nossa Bem-Amada Cubatão.


E que aqui chegou por, inclusive, superar um desentendimento.

Vemos: o tempo é um elemento musical, também chamado senhor da razão. Tempo ao tempo, pois.

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